Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação “Sou muito grato por tudo. Depois do diagnóstico, a minha vida mudou completamente. E, mesmo com a doença, eu só tenho a agradecer. Agradeço até por ter esclerose múltipla, porque isto me fortaleceu demais. Sou outra pessoa hoje e agora estou tentando influenciar outras pessoas a fazerem o mesmo.” - Juliano Cabral
O que você tem feito por você mesmo? Quais as escolhas você tem feito a cada amanhecer? A cada dia em que o Sol nasce, rompendo as cortinas da janela e despertando você para boas oportunidades, o que você tem feito para tornar este dia produtivo e especial? Como tem aproveitado este milagre que é abrir os olhos e respirar para caprichar em mais um dia de vida?
Uma mesma vida pode ser vista por quase que infinitos ângulos e prismas. É como se cada um de nós possuísse um par de óculos e por ele fosse possível enxergar a mesma vida por incontáveis jeitos. O que para você é motivo de reclamação, para a pessoa ao seu lado pode ser causa de agradecimento. Reclamar menos, agradecer menos. Agarrar as chances com gana e torna-las um diferencial, um trampolim para a evolução física, mental e espiritual.
Você já tentou ser melhor hoje? Os efeitos são contagiantes. Fazem você sorrir, a saúde melhorar, as pessoas ao seu redor serem contaminadas por boas coisas e reproduzirem com sentimentos e comportamentos.
Hoje a série de matérias especiais “Orgulho Lageano”, produzidas pela Coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Lages, irá contar a história de Juliano Cabral, o lageano que vai, sem sombra de dúvidas, provocar você à reflexão, lhe tirar da zona de conforto e, sem que sequer perceba, de certo modo, constranger, gerar em você o “desconforto do bem”. Aí sim, pode-se dizer que você entendeu tudo. Ou, pelo menos, aceitou ser convidado a mudar... para melhor, aos poucos, pois não é a velocidade que leva a bons resultados, mas a constância.
Juliano Cabral nasceu em Lages há 37 anos e escolheu o bairro Coral para construir um lar com sua esposa, Fernanda Justus. Seus pais são separados desde que ele era criança. Sempre residiu com sua avó Ivone, senhora aposentada da área da saúde, onde moram, juntos, até hoje. Juliano tem 11 irmãos: Camila, Bruna, Roberta, Indianara, João, Eduarda, Clarice, Elias, Rodrigo, Rafael e Davi. Juliano ainda não tem filhos, mas ter um bebezinho em casa está na lista de sonhos.
Formado em engenharia civil depois de uma trajetória que logo, logo já vamos “experenciar”, Juliano está aposentado por invalidez desde o diagnóstico de esclerose múltipla. Após a aposentadoria, voltou a estudar e se formou em engenharia civil. Hoje em dia atua como criador de conteúdo e ativista pela inclusão.
Literalmente, Juliano começou a correr contra o que poderia parecer óbvio a uma grande parcela de pessoas na sociedade. “Diagnosticado com esclerose múltipla há quase 12 anos, passei por momentos difíceis, com limitações severas. Fui aposentado por invalidez, mas reencontrei meu propósito na corrida, na superação e no ativismo pela inclusão de PCDs [Pessoas com Deficiência]. Hoje, vivo em movimento, inspirando outras pessoas. A corrida transformou minha vida. É meu meio de superação e cuidado com a saúde”, revela o corredor.
Primeiro vamos saber melhor sobre a Esclerose Múltipla
Trata-se de uma doença neurológica desmielinizante autoimune crônica provocada por mecanismos inflamatórios e degenerativos comprometedores da bainha de mielina que revestem os neurônios das substâncias branca e cinzenta do sistema nervoso central.
Alguns locais no sistema nervoso podem ser alvo preferencial da desmielinização característica da doença, o que explica os sintomas mais frequentes: O cérebro, o tronco cerebral, os nervos ópticos e a medula espinhal.
A prevalência e incidência de esclerose múltipla no mundo variam de acordo com a geografia e etnia, com taxas de prevalência variando de dois por 100 mil na Ásia e mais de 100 por 100 mil na Europa e América do Norte.
No Brasil estima-se que existam em torno de 40 mil casos da doença, uma prevalência média de 15 casos por 100 mil habitantes, conforme a Federação Internacional de Esclerose Múltipla e Organização Mundial da Saúde (OMS).
O número estimado de pessoas com esclerose múltipla no mundo aumentou de 2,1 milhões em 2008 para 2,3 milhões em 2013. A doença atinge geralmente pessoas jovens, com a média entre 20 e 40 anos de idade, predominando entre as mulheres.
As causas envolvem predisposição genética (com alguns genes já identificados que regulam o sistema imunológico) e combinação a fatores ambientais, funcionando como “gatilhos”.
Nos portadores de esclerose múltipla as células imunológicas invertem seu papel: Ao invés de protegerem o sistema de defesa do indivíduo, passam a agredi-lo, produzindo inflamações. As inflamações afetam particularmente a bainha de mielina - uma capa protetora de revestimento dos prolongamentos dos neurônios, denominados axônios, responsáveis por conduzir os impulsos elétricos do sistema nervoso central para o corpo e vice-versa.
Corredor amador, Juliano participa de provas, entretanto, o maior desafio é diário: Correr cinco quilômetros todos os dias
Sua rotina é de treinos, cuidados com a saúde, produção de conteúdo digital para a Internet (@pcdtambemcorre no Instagram) e momentos com sua família. O jovem corre cinco quilômetros todos os dias e faz musculação cerca de quatro vezes por semana. “Eu corro há mais de um ano, e em 2025 iniciei o projeto de correr todos os dias. Já são mais de 100 dias consecutivos correndo cinco quilômetros. ” Programação aliada à alimentação saudável e balanceada, evitando alimentos inflamatórios.
Os principais obstáculos são os sintomas da esclerose múltipla, como bexiga neurogênica, fadiga e as dificuldades invisíveis provocadas pela doença. “As maiores superações e vitórias foram: Sair das bengalas, deixar de usar fraldas, correr todos os dias, e influenciar positivamente outras pessoas. O que mais me orgulho nesta vida é de nunca ter desistido, mesmo quando tudo parecia impossível. ”
Ele gosta de correr sob o Sol, no fim da manhã
“Gosto de correr sob o Sol, em horários como 10h30min ou 11h. Tenho esta flexibilidade. Mas sei que nem todo mundo pode. Por isto, é essencial garantir opções de treino em horários ampliados, cedo ou depois do expediente - só assim mais pessoas vão conseguir se movimentar e cuidar da saúde.”
O corredor não se intimida com a chegada do outono e inverno. Pelo contrário, são fatores combustíveis
“E sobre o frio? Não assusta. Quando há propósito, vontade e disciplina, nem o frio nos impede. Claro, levantar da cama cedo no inverno não é fácil, mas é possível. Quem quer, vai lá e faz.”
Juliano utiliza a Pista de Atletismo do Estádio Vidal Ramos Júnior
A Pista de Atletismo do Estádio Municipal Vidal Ramos Júnior estreou seu novo horário de funcionamento em 15 de abril deste ano de 2025 - 5h às 21h30min, de segunda a sexta-feira. Caminhada e corrida em um ambiente estruturado e seguro.
E claro que o Juliano não ia perder esta. “Sempre que posso, escolho o Estádio para fazer meus treinos. Nos dias em que houve chuva, vou ‘pra’ ciclovia da avenida Dom Pedro II. É um bom espaço e, em alguns trechos, trajeto desafiador, principalmente ‘pra’ quem, como eu, tem uma condição física que exige ainda mais atenção e equilíbrio.”
Fundador do Projeto PCD Também Corre
Idealizador do Projeto PCD Também Corre, o sonho de Juliano é ver a iniciativa alcançar o Brasil inteiro - “quem sabe, o mundo”.
Por trás do Juliano corredor pulsa o coração de um Juliano sonhador, sensato, humano, esperançoso, feliz
Peculiaridades?
“Tento sempre motivar as pessoas. Hoje eu corro por isto.”
Mais um sonho, Juliano?
“Ser pai.”
Admira?
“Admiro pessoas que não desistem.”
Um medo?
“Perder as pessoas que eu amo.”
Um desafio?
“Correr com esclerose múltipla todos os dias, superando os limites do corpo.”
Um frio na barriga?
“Antes de cada prova oficial.”
Um lugar?
“Minha casa. É voltar para o aconchego, para junto da família. Saber que eu saí e retornei.”
Uma viagem feita?
“Uma ida a Porto Alegre, com minha esposa e amigos, para assistir ao show do David Gilmour na Arena do Grêmio.”
Uma viagem a fazer?
“Conhecer outro país junto com minha esposa.”
Família?
“Meus pais são separados e cada um mora em uma cidade diferente. Apesar de estarem longe, meu pai, minha mãe e meus irmãos são minha família também, claro. Minha avó, minha esposa e meu sogro estão comigo. Eu fui criado pela minha avó desde os cinco anos de idade. Hoje tenho 37 anos e ainda moramos juntos. Minha avó é meu alicerce, sendo avó, pai e mãe ao mesmo tempo. Então, assim se resume minha base familiar.”
Uma saudade?
“De jogar futebol.”
Em que você acredita?
“Deus me guia em tudo.”
Gostos pessoais
Com mania de olhar a celular toda hora, o gremista e apreciador de um bom churrasco, café e da cor alaranjada, tem os hobbies de correr e criar conteúdo virtual e gosta de “curtir” a música Back in Black - AC/DC e o cantor David Gilmour, do Pink Floyd.
Um bichinho de estimação?
“Já tive um gato e um cachorro que foram meus parceiros e companheiros, mas já foram morar com Deus. Hoje temos um gato, uma bênção, que é muito amado.”
Um plano?
“Expandir o Projeto PCD Também Corre e buscar mais apoio para a inclusão.”
Uma meta?
“Fazer o meu melhor hoje, com o que eu tenho no momento - e saber que amanhã tem mais.”
Sua agenda?
“Treinos diários, produção de conteúdo, participação em corridas e eventos de inclusão.”
Quem é o Juliano?
“Um cara teimoso, às vezes chato, mas de coração aberto. Alguém que sempre procura fazer o correto e dar o melhor pelos outros. Uma pessoa que não se define por um diagnóstico, mas todos os dias pela vontade de vencer. Minha frase: Só depende de nós.”
Por que é bom ser um Orgulho Lageano?
“Porque é a cidade onde nasci, de onde carrego minhas raízes. Lages faz parte da minha essência e vou levá-la para onde for. Gosto deste lugar, é tranquilo, aconchegante, onde estão meus amigos e minha família.”
“Minha luta vai além da corrida. Quero mostrar que qualquer pessoa com deficiência pode se superar, viver bem, e conquistar seus sonhos - assim como eu estou conquistando os meus.”
“Sou muito grato por tudo. Depois do diagnóstico, a minha vida mudou completamente. E, mesmo com a doença, eu só tenho a agradecer. Agradeço até por ter esclerose múltipla, porque isto me fortaleceu demais. Sou outra pessoa hoje. Vivo um dia de cada vez da melhor forma possível, e agora estou tentando influenciar outras pessoas a fazerem o mesmo.”
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Fábio Pavan e Arquivo pessoal/Divulgação
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