Fotos: Fábio Pavan Cezar Augusto Branco, estudante do 8ª ano do Ensino Fundamental, conquistou a medalha de bronze nacional e prata estadual na 19ª edição da Olímpiada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Uma vitória impulsionada pela família, pela professora Adildes, e claro, a admiração por Nikola Tesla
Nikola Tesla foi um inventor, engenheiro eletrotécnico e mecânico e físico que se destacou por contribuições inovadoras no campo da eletricidade e eletromagnetismo. Nasceu em 10 de julho de 1856, na atual Croácia, e mudou-se para os Estados Unidos em 1884, onde desenvolveu a maior parte de seu trabalho. É conhecido por ter sido um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento e difusão da corrente alternada, sistema que se tornou padrão para a distribuição de energia elétrica no mundo.
Um de seus inventos mais famosos, a Bobina de Tesla, é utilizada até hoje em experimentos e pesquisas com eletricidade de alta voltagem. Tesla foi um visionário em áreas, como, transmissão sem fio e comunicação por rádio, e até ideias futuristas, como, energia gratuita e comunicação global instantânea.
O legado de Nikola Tesla é inspiração para um estudante da Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Ondina Neves Bleyer, localizada no bairro Sagrado Coração de Jesus. Cezar Augusto Branco, 13 anos, aluno do 8ª ano do Ensino Fundamental, conquistou a medalha de bronze nacional e a prata estadual na 19ª edição da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep). Feito impulsionado pela família, pela professora de matemática da Emeb Ondina, Adildes Oliveira dos Santos Ros Sampaio, e claro, a admiração por Nikola Tesla.
Fome de conhecimento
Cezar é um rapaz de poucas palavras, mas que ostenta uma expressão curiosa e um leve sorriso, de quem está sempre atento a tudo o que passa ao seu redor. O olhar das pessoas famintas pelo conhecimento. É a professora de matemática da Emeb Ondina Neves Bleyer e mentora de Cezar, Adildes Oliveira dos Santos Ros Sampaio, que começa a descrevê-lo, sem disfarçar o orgulho. Seu foco e talento se sobressaem. “O Cezar não se limita só ao conteúdo que é passado na escola, vai atrás, busca sempre estudar um pouco mais. Demonstra talento, tem muita disciplina, é focado naquilo que gosta. Está no 8º ano, mas já estuda conteúdos de ensino médio. Estes dias apareceu com uma apostila de mais de 600 páginas. O conteúdo que a gente estuda na sala de aula, ele já estudou antes”, descreve a professora Adildes.
Por conta de ter sido medalhista na Obmep, Cezar já integra o Projeto de Iniciação Científica Jr. (PIC). O estudante sequer terminou o Ensino Fundamental e já tem uma bolsa para mestrado ou doutorado garantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A vaga na Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc) também já está garantida. “Durante a cerimônia de premiação, o reitor da Ufsc comentou sobre a intenção de manter estes estudantes na Universidade”, relata a diretora da Emeb Ondina Neves Bleyer, Alessandra Wolinger Machado.
Cezar foi o único medalhista do Sistema Municipal de Educação premiado na 19ª edição da Obmep. Sobre a prova, afirma com naturalidade, “foi até tranquilo”. O medalhista sempre gostou de matemática e fala sobre se tornar referência para outros jovens como ele. “Sempre gostei de matemática, das ciências exatas. É uma área do conhecimento que desafia, faz crescer a vontade de aprender a cada dia. É um orgulho, como estudante da educação pública, poder ser referência para outros jovens de Lages.”
Sobre a escolha de uma profissão, são duas as opções até o momento. “Têm duas áreas que eu gostaria de seguir, engenharia ou medicina, para ser neurocirurgião.” Cezar gosta de atividades e temas pouco comuns para meninos da sua idade. “Gosto de ler e estudar bastante.” As ciências humanas não são a sua praia. “Neste momento tenho lido livros sobre autodesenvolvimento e economia.”
A professora Adildes o incentiva a seguir nas ciências exatas. “Não sei qual área ele vai escolher, engenharia ou medicina. Mas se não for ‘pra’ área das exatas, será um desperdício de talento”, afirma. Ao ser questionado sobre o que gosta de assistir na televisão, nada de esportes ou animes asiáticos. “Gosto bastante de assistir canais de notícias”, responde o jovem.
Novamente sem disfarçar o orgulho, a professora Adildes relata que Cezar entende de investimentos financeiros. “Em maio, quando começou a receber a bolsa, começamos a falar sobre realizar investimentos. O Cezar entende de investimentos, bancos digitais, renda fixa, variável. É um menino que tem um visão bem avançada para a idade dele.”
O secretário municipal da Educação, professor Dr. Cristian de Oliveira, celebra o jovem talento. “É com imenso orgulho que celebramos a conquista do Cezar na Obmep. Seu desempenho brilhante reflete não apenas o seu talento e dedicação, mas também o compromisso do nosso Sistema de Educação com a excelência. Cezar é um exemplo inspirador para todos os nossos estudantes e um verdadeiro orgulho para Lages. Que sua trajetória siga sendo marcada por conquistas e que sua história motive muitos outros jovens a acreditarem no poder da educação.”
Quando é questionado sobre o que sentiu no momento da descoberta de sua conquista, Cezar solta o verbo e começa a descrever sua pequena aventura. “Quando descobri foi legal. Estava há uma semana na casa da minha avó. O meu tio mora um pouquinho longe dela. Liguei o computador dele só para ver o resultado. Fiquei bem feliz quando vi que tinha sido premiado. Atravessei um terreno que dava para a casa da minha avó, que encurta o caminho, e contei para ela e minha mãe. Depois liguei ‘pro’ meu pai”, lembra.
A figura que mais admira só poderia ser mesmo um gênio ligado às ciências exatas. “A personalidade que eu mais admiro é o Nikola Tesla. Já li duas biografias sobre ele. Foi um grande cientista. Um homem bem além do tempo dele.”
O garoto Cezar Augusto Branco busca, agora, conquistas na 20ª edição da Obmep. O estudante lageano já está classificado para a segunda etapa do certame, que ocorrerá em outubro. Desta vez Cezar compete pelo nível II, para alunos de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. O bronze nacional e prata estadual foram no nível I, para alunos de 6º e 7º anos.
Suporte da família e imprevisto na premiação
No dia 9 de julho foi realizada a premiação da etapa nacional, no Centro de Eventos da Ufsc, em Florianópolis. A diretora Alessandra já estava na capital do Estado há um dia. A professora Adildes não pôde ir. A família de Cezar se mobilizou para levar o menino até a premiação, mas no caminho ocorreu um acidente que interrompeu o trânsito por várias horas. Apesar do imprevisto, Cezar chegou a tempo de receber sua medalha de bronze pela conquista nacional.
A professora Adildes pontua o suporte e a inclinação da família pelos estudos. “Pense em uma família bacana. Além do Cezar já ser talentoso, disciplinado, tem o apoio da família, que é muito presente. Estes tempos contou que a irmã dele, que já foi aluna da Ondina, hoje faz medicina. É para mostrar que na escola pública, quem se dedica, estuda, chega longe”, enfatiza Adildes.
Como é realizada a Obmep?
A Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep) é um projeto nacional realizado em escolas públicas e privadas do Brasil. Suas provas abrangem diferentes conteúdos de Matemática e são aplicadas para estudantes dos ensinos fundamental e médio.
As provas são realizadas em duas fases e divididas em três níveis de ensino: Níveis 1 (6º e 7º anos) e 2 (8º e 9º anos) para o ensino fundamental e nível 3 para o ensino médio. Na 1ª fase, os estudantes respondem a uma prova objetiva formada por 20 questões objetivas, diferenciadas de acordo com o nível. Cerca de 5% dos estudantes inscritos se classificam para a 2ª fase, composta por uma prova discursiva com seis questões, também de acordo com o nível.
A realização da Obmep é responsabilidade do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), com apoio da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM), e possui objetivo de incentivar o interesse pela matemática nos estudantes brasileiros, estimular a relação de aproximação entre escolas e universidades, impulsionar o aprimoramento matemático de professores e contribuir para o processo de escolha da carreira profissional.
Os alunos com os melhores resultados nas duas fases recebem premiações, como, medalhas, menções honrosas e oportunidades de ingresso em programas de iniciação científica e cursos no ensino superior.
Professora e incentivadora
A maior incentivadora de Cezar Branco na Emeb Ondina Nenes Bleyer é, sem dúvida, sua professora de matemática, Adildes Oliveira dos Santos Ros Sampaio. A alegria e motivação em lecionar na Emeb Ondina brilham nos olhos da professora “É uma satisfação trabalhar na Escola, tem uma equipe muito boa, os alunos são bastante dedicados. A Ondina já participou de outras edições da Obmep e sempre se destacou.”
Adildes se empolga ao comentar o sucesso dos alunos da Emeb Ondina em edições passadas da Obmep. “É uma característica da Ondina. De 2006 a 2010 fui professora aqui e já obtivemos medalha. Agora o Cezar foi bronze nacional e prata estadual. Obtivemos certificados de menção honrosa com dois outros estudantes, um do 8º ano vespertino e outro que agora está no 9º ano, no nível II. Gosto de incentivar os estudantes a participar cada vez mais”, revela a professora.
A diretora da Emeb Ondina Neves Bleyer, Alessandra Wolinger Machado, valoriza o trabalho da educadora de sua unidade. “A gente se sente orgulhosa de ter na Escola uma profissional como a Adildes. Quando se fala em escola pública, é uma excelente profissional. A ‘profe’ ajuda muito o Cezar. Por mais que ele busque conhecimento fora da escola, ela consegue ajudar ele mesmo fora do conteúdo, sempre incentiva para que ele continue. Se o professor não consegue motivar, o estudante acaba não se interessando pela matéria. Ela ensina quem tem dificuldade, estimula, e quem tem facilidade vai muito além do conteúdo. Não queremos perder a Adildes de jeito nenhum”, confessa a diretora Alessandra.
A professora se emociona com as palavras da diretora Alessandra. Ainda com os olhos vermelhos completa. “A recíproca é verdadeira. Eu quero que os alunos tenham uma visão positiva em relação à matemática. A gente só não gosta daquilo que não conhece. Temos de procurar conhecer, entender a importância de todas as áreas do conhecimento. Que a matemática possa melhorar a vida deles, além dos conteúdos. O mais importante da matemática não é saber fazer contas, o mais importante é fazer pensar, raciocinar”, finaliza, com paixão pelo ofício de ensinar.
Texto: Glaucir Borges
Fotos: Fábio Pavan
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