Fotos: Marcos Heitor de Carvalho, Toninho Vieira, Julia Almeida e Daniele Mendes de Melo Nesta semana, um Orgulho Lageano de confidências, direto da bicentenária Fazenda do Barreiro: Um dos casais mais famosos da Serra de Santa Catarina mostra uma face desconhecida do grande público. Apanhe a cuia e chame os amigos para a roda de chimarrão que a história é boa, hein!
As paisagens forradas de pinheiros araucária, com seu verde escuro vigoroso, suas copas carregadas de pinhão, aconchegados em campos branquinhos de geada e de neve no mês de julho. Logo mais à frente, um riacho com tilápia para saborear no almoço e para as crianças brincarem quando o tempo esquentar, e uma ponte de madeira rústica para o casal de namorados eternizar. Logo mais à frente, uma família de quero-quero grita faceira por mais uma amanhecer. As curucacas e seriemas também vieram prestigiar o espetáculo da natureza. Cachorros e gatos desfilam pelo pasto brincando e caçando confusão. Gado e ovelhas se harmonizam na bem querência da vida campeira.
Se voltar o olhar um pouco para o lado, uma casinha de madeira, antiga, com fumaça saindo pela chaminé. Pinhão assado na chapa do fogão à lenha, chimarrão na roda de lembranças. Quitutes serranos montados em uma mesa linda de café colonial sobre a toalha de renda que a vó costurou. Pão caseiro sovado na mão com mel crioulo passado por cima, bolo de cenoura quentinho, rosca de coalhada feita com o leite da vaquinha do galpão, bolinho de chuva, orelha de gato [cueca virada] e bijajica e sopinha de feijão. Omelete feito com ovo de galinha caipira criada no terreiro. Café cheiroso coado no coado de pano. Parece um quadro pintado em tela, parece um colo que a gente ganha de tanto afeto que tem. Este é o paraíso. E este paraíso existe. Ainda bem.
Nada de barulho de cidade grande. Poder desligar o celular e olhar nos olhos do filho, ouvindo-o de verdade. Viver a vida, simplesmente.
Toda esta magia pode ser sentida na pele em qualquer uma das fazendas e hotéis fazenda da Serra Catarinense. Todo mundo planeja, conta os dias e fica ansioso por fazer as malas, escolhendo com cuidado cada peça, e imagina como vai ser a viagem, a playlist no carro, as “paradas” para refeições e fotos com a família, cada detalhe, e sai de casa “pegar” a estrada para ser bem recebido por onde for e ter momentos inesquecíveis, seja nas férias de fim de ano, Natal, férias escolares e de julho, feriado prolongado de Páscoa, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados, ou aquela data especial de casais, para comemorar mais um ano lado a lado, de namoro, casamento, bodas ou para impressionar aquela pessoa especial que já tem lugar cativo na nossa vida ou que de paquera pode virar romance. Pode ser um ambiente requintado e refinado, como um simples e charmoso. Tanto faz quando o coração está aberto a novidades. Um dos exemplos destes lugares ímpares é a bicentenária Fazenda do Barreiro, do senhor Laélio Bianchini e da senhora Tânia Ávila, um casal apaixonante em qualquer estação do ano.
Quatro décadas do Turismo Rural no Brasil -
Lages pioneira, referência nacional e internacional e Capital Nacional do Turismo Rural
O Turismo Rural brasileiro está comemorando 40 anos {desde 1.985} e tudo começou na Serra de Santa Catarina, e em Lages. Lages é pioneira e referência nacional e estrangeira no segmento, a Capital Nacional do Turismo Rural.
E para celebrar esta atividade econômica praticada desde a década de 1.980, a Prefeitura de Lages, por sua Secretaria do Turismo, está produzindo um documentário especial com a exposição de personagens primordiais na construção desta história. O mundo dos hotéis fazenda da Serra Catarinense será lançado e exposto ao público durante um Seminário Nacional, programado para setembro de 2026.
Um dos relevantes nomes na defesa do Turismo Rural é Adones Zimmermann, atualmente sócio diretor na Zimmermann Consultoria e Treinamento Turístico Ltda. e diretor do Instituto Vida Nativa. Em seu currículo profissional digital consta como criador do Turismo Rural com projeto pioneiro na cidade de Lages em 1986, a qual foi denominada como “Capital Nacional do Turismo Rural”. Adones é especialista e experiente na criação e implantação de projetos de desenvolvimento sustentável em comunidades tradicionais, consultoria, palestras, diagnósticos e planejamento turístico em geral. A empresária Sônia Gamborgi, proprietária do Hotel Fazenda Pedras Brancas, e Vilson Urbano, do MAP, Hotel, ambos situados em Lages, jamais devem deixar de ser lembrados nesta história do turismo em Lages.
A 8ª geração da Fazenda do Barreiro nestes seus 262 anos
Fundada em 1.763 pelo português José Joaquim Pereira, a Fazenda do Barreiro, localizada em território geográfico dos municípios Painel e Urupema, é administrada pela 8ª geração da mesma família. Toda esta história está contada em seus dois Museus, com dezenas e dezenas de objetos que reconstroem os mais de 200 anos da Fazenda.
As atividades de hospedagem foram iniciadas em 1.986 {almoços em 1.985}, o que faz da Fazenda do Barreiro uma das duas pioneiras do Turismo Rural no Brasil, ao lado do Hotel Fazenda Pedras Brancas [esta em 1.985]. São 18 apartamentos com televisão, aquecimento e abastecimento de água mineral de fonte própria (que por ser bicarbonatada é indicada para doenças como gastrite e úlcera do estômago e em função da presença de lítio contribui para manter o equilíbrio do humor). No bar, música ao vivo e apresentações folclóricas.
O cardápio de gastronomia típica inclui o tradicional carreteiro e o feijão tropeiro, devidamente preparados no fogão à lenha, o que incrementa o sabor sem igual. Fazer cavalgadas e caminhadas, pescar em açudes, descer o Rio Divisa em botes e acompanhar a vida cotidiana com o gado são outros programas imperdíveis.
A Fazenda do Barreiro possui 262 anos, pois foi fundada em 1.763 [Lages foi fundada três anos depois], e iniciou suas atividades de Turismo Rural no ano de 1.986, com oferecimento de refeições de almoço, quando sua área geográfica pertencia ao município de Lages. O Hotel Fazenda Pedras Brancas começou sua atuação em 1.985, já com oferta de hospedagem a visitantes e turistas.
Entre as curiosidades da Fazenda do Barreiro estão as casas de pedras de taipas, material altamente resistente aos fatores da passagem do tempo e climáticos. Na Cozinha de Chão com mais de 200 anos, um cenário de novela rural de época, com adornos entalhados em madeira, e paredes com o que é considerado um “cimento” feito com esterco de gado, e montagem moldada sobre as coxas dos trabalhadores daquele tempo.
A estrutura física das edificações são constituídas por Museu do Paiol, onde estão abrigados objetos e elementos comprobatórios históricos da vida antiga, como utensílios domésticos, itens de acomodações, ferramentas, trabalho braçal na pecuária e agricultura, estudos e artigos de arte e decoração.
O amor de Tânia e Laélio resistente ao tempo como as taipas, como o ouro
Feriado municipal de 15 de agosto, Dia de Homenagem à Padroeira de Lages, Nossa Senhora dos Prazeres, Mãe Santa cujo manto sagrado cobre o município com sua proteção amiga e materna. Dia propício a boas e inspiradoras histórias.
É meio da tarde de um dia de julho no inverno do Sul. A pouca distância das fagulhas acobreadas da fogueira da Cozinha de Chão, um casal de cabelos grisalhos senta-se em bancos rústicos de madeira para mais um tempo valoroso de prosa. No seu banquinho preferido de tomar chimarrão, ao lado do seu amado de uma vida inteira, Tânia compartilha mais uma cuia de erva-mate com o seu eterno namorado. “Esse aí era o lugarzinho do meu pai ficar”, fala para uma amiga, que senta em sua frente, em diagonal, para também se aquecer na temperatura baixa de dia nublado, frio e úmido; é só o começo do inverno.
Estrada boa, asfalto de tapete. Imensidão de campos verdes a perder de vista. Florestas de araucária dividem cercados com vastos campos de pastagens. Depois do perímetro urbano de Painel, via rodovia SC-114, passando o acesso a Urupema, sentido Lages -Bom Jardim da Serra, à esquerda começa a aventura. Quatro quilômetros e meio e pronto, vai ter vida boa, sim! Desligar-se do mundo cotidiano, cheio de compromissos e se permitir a uma imersão de dar nó na garganta.
Eduardo Bianchini, filho, sucessor no legado e administrador da Fazenda do Barreiro, a quem o casal arrendou o negócio, está no comando e acompanha tudo sob olhar atento, exigente e perfeccionista.
Laélio Bianchini da Costa Ávila nasceu na Fazenda Morrinhos {área pertencente a Lages} e reafirma, de peito estufado. “Aprendi a ser gaúcho lageano lá.” Formou-se em técnico e contabilidade em Uruguaiana, região de fronteira entre o Rio Grande do Sul e o país irmão Argentina.
O contador contador de histórias deixou ouvir a voz que falava mais alto em seu coração e trocou a lida com os números pela lida com o que mais ama: O campo e a singularidade da vida rural bem pertinho da natureza.
Entre as preciosidades guardadas por esta família, registradas nas paredes da casa de madeira ou em caixas de recordações, está o Diploma de Honra ao Mérito concedido a Laélio pela Secretaria de Estado dos Transportes e Obras, por intermédio do Departamento de Estradas de Rodagem de Santa Catarina (DER/SC), em 16 de outubro de 1981, por ocasião da inauguração da Rodovia Coronel Aristiliano Laureano Ramos - SC-425 – Trecho Otacílio Costa – SC-470.
Laélio está casado há seis décadas com sua princesa, Tânia Ávila - a descendente e herdeira original das terras da Fazenda - nascida entre Lages e São Joaquim [terras daquele tempo], professora por formação, com curta experiência com criancinhas e alfabetização de filhos de funcionários da fazenda. Os pombinhos têm 84 e 79 anos. Dos dois, ele tem mais tempo vivido já.
Desta união de conto de fadas nasceram dois filhos, Eduardo e Adriana, que é profissional administradora de um colégio em São José, na Grande Florianópolis.
A árvore genealógica dos Bianchini da Costa Ávila continua firme, fértil e frutífera. São quatro netos, bem encaminhados na vida: Um médico, uma médica veterinária, uma enfermeira e um estudante de psicologia.
O que você irá ler a partir de agora deveria ser redigido em caneta tinteiro, aquelas que aparecem nas mãos dos escritores apaixonados por literatura romântica e rapidamente emoldurado em fios dourados para a posteridade.
Com vocês, o Turismo Rural brasileiro, na voz de Laélio Bianchini. Sente-se, apanhe uma xícara de café bem quente e deleite-se:
“Nós começamos Turismo Rural há 40 anos. A Fazenda era em Lages. Na Europa já se fazia Turismo Rural, aqui ainda era desconhecido. Os ônibus vinham de São Paulo para Gramado e o então prefeito à época, Paulo Duarte, queria segurar os aqui na região.
Temos fazendas com mais de 200 anos de história. Iniciamos recebendo gente do Hotel MAP. Assistiam danças, comiam churrasco... Mas nós não nos satisfazíamos, e eles também não, porque queriam passar mais dias, queriam pouso e não tínhamos condições de estrutura. Os primeiros turistas pousavam no sótão.
Um francês viu a notícia na Bahia e veio e ficou três, quatro dias aqui na Fazenda. Fizemos quatro apartamentos bem simples e assim demos a largada. ‘Fizemos’ palestras em praticamente todo o Brasil, inclusive na Ilha do Marajó [Pará].
Tem mais ou menos dez mil propriedades hoje recebendo turistas. Os habitantes das cidades grandes, de metrópoles, não têm mais o contato com a natureza. Aqui as pessoas conhecem a vaca, galinha; as crianças descobrem de onde vem o leite.
Passamos de quatro para seis apartamentos; depois, mais oito, e depois mais 11. Recebíamos 100 hóspedes, crescemos demais. Só que assim com muita gente, a gente acaba não conversando com as pessoas, não consegue muito contato. Hoje temos 18 apartamentos, sem perdermos a essência de fazenda, pois acreditamos neste fundamento. Estamos baseados na raiz, nossa fazenda e nossa história. Nós iniciamos este processo em Lages como uma novidade. Muitos começaram e desistiram. Creio que poderemos recuperar o número de propriedades de Turismo Rural com o trabalho da Secretaria do Turismo. Nós temos hóspedes que vêm há mais de 20 anos. Disseminou muito... para Urupema, Urubici.”
Um baú de experiências magníficas
“Oferecemos cavalgadas, almoço típico, churrasco de carne de gado [boi], ovelha, porco. Começamos com almoço, danças gaúchas e churrasco. Isto por seis meses. O Turismo Rural foi notícia no Brasil inteiro. Tenho recortes de jornal do Rio de Janeiro. Mantemos as características de fazenda, a estruturamos melhor; temos ar-condicionado, Internet nos quartos. Temos as saídas a cavalo, por uma hora pela manhã e por uma hora à tarde. As crianças são os nossos agentes especiais de turismo.
Destino de turistas da Suíça, Alemanha, Inglaterra, França e Bélgica
Não importa o clima, se é verão ou inverno, primavera ou outono, tem turista de todo o tipo, look e idioma circulando pela Fazenda do Barreiro. Um misto de conversas e troca de informações históricas, culturais, políticas, sociais, ideológicas. O entrevero de assunto: É sobre futebol, presidente, música, esporte, teatro, comida, artista, influencer. A Fazenda do Barreiro já recebeu gente de praticamente todos os países da América do Sul e constantemente da Europa, como Suíça, Alemanha, Inglaterra, França e Bélgica.
A relação transcendental entre o homem e o cavalo e o poder visionário de Laélio
“Esses tempos, estávamos conversando - eu, Tânia e o Odair Ramos, agrônomo do Ministério do Turismo - sobre renda para contratar funcionário, e para conseguir viver bem. Houve um episódio em que recebemos 19 suíços aqui na fazenda. Eles ficaram uma semana e gastaram mais de 40 mil reais.
Fomos para a Coxilha Rica com eles. Uma turista queria muito andar em uma mula. Emprestei para ela e ficou contente, andou o dia inteiro com aquela mula. Voltaram 500 anos nas origens. Na Europa cultivam muito andar a cavalo.
Há 30 anos começamos as cavalgadas, por uma semana, pela Coxilha Rica, no mês de novembro, com grupos de brasileiros e grupos estrangeiros. A beleza dos campos da Coxilha, com direito a pouco para os cavaleiros, com almoço e ‘janta’ nas fazendas parceiras nossas. Passamos esta missão para o Daniel, da Fazenda Chapada, que segue este trabalho. Não existe no Brasil outro lugar como a nossa Coxilha Rica, mesmo fora do circuito.”
Uma enciclopédia viva e sua reverências às coxilhas
“A Coxilha Rica é detentora de campos nativos de dez mil anos, 40 variedades de capim e de pasto, serviu para o tropeirismo de mula de Viamão [Rio Grande do Sul] até Sorocaba [São Paulo]. As mulas vinham da Argentina e devido ao caminho perdiam peso, emagreciam demais. Os tropeiros ficavam por aqui ‘engordando as mulas’ por seis meses, recuperando os animais. Cristóvão Pereira de Abreu, que era geógrafo, saiu de Viamão com 800 mulas a São José do Rio Preto [SP}, levou meses e meses para chegar. Na Coxilha Rica havia pontos complicados e perigosos de passagem, como o Passo do Inferno Grande, depois Restinga Seca, Passo de Sana Vitória.”
Em 1.731, Cristóvão Pereira de Abreu conduziu cerca de 3.200 cabeças de gado e 132 homens do Rio Grande do Sul até Sorocaba, segundo Carlos Solera, idealizador do Projeto Tropeiros Brasil. Esta viagem durou 13 meses e diversas vilas foram se formando a partir disto. Ao longo do tempo, tornaram-se cidades, com a rica miscigenação cultural.
Já em 1.732, o preador rio-grandense, Cristóvão Pereira de Abreu, teria levado até São Paulo, destinados às regiões mineiras, 800 mulas e três mil cavalos, o que justificaria, naquele ano, a abertura de uma nova estrada ligando Curitiba ao Extremo Sul.
Uma parada para conhecermos mais sobre os tropeiros -
O que é tropeirismo?
O tropeirismo, cujo termo deriva de “tropa”, foi uma atividade itinerante desenvolvida por grupos de homens, os tropeiros, durante a época colonial do Brasil. Os tropeiros conduziam o gado, principalmente do Rio Grande do Sul para Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, levavam consigo bens essenciais para o interior.
Este sistema econômico baseado na criação de gado e no comércio de produtos agrícolas predominou no Sul do Brasil entre os séculos XVII e XIX. Os tropeiros eram os comerciantes que transportavam estes produtos em mulas, por meio de caminhos e trilhas conhecidas como “tropas”.
O tropeirismo surgiu como uma nova atividade que promovia a interligação dos polos econômicos antes inexistentes. As mercadorias importadas e alimentos eram trazidos no lombo de mulas que cortavam várias trilhas capazes de integrar diferentes pontos do território.
Os produtos eram transportados por comboios de mulas, conhecidos como tropas, que cortavam várias trilhas capazes de integrar diferentes pontos do território. O comércio nestes povoados desenvolvia-se naturalmente para atender as tropas, ao mesmo tempo em que os tropeiros levavam e traziam mercadorias para estes povoados.
Rota mais famosa dos tropeiros
A rota mais famosa dos tropeiros é conhecida como Caminho das Tropas, também chamada de Estrada das Tropas, Estrada Viamão - Sorocaba, Estrada Real, Caminho da Serra ou Estrada do Sertão.
Extensão do Caminho das Tropas
O Caminho das Tropas, também conhecido como Estrada das Tropas ou Caminho do Sul, era uma antiga via terrestre de ligação do Rio Grande do Sul com a Capitania de São Paulo durante o período do Brasil Colônia. Esta rota tinha aproximadamente 1.500 quilômetros de extensão entre o Registro de Viamão, no Rio Grande do Sul, e o Registro de Sorocaba, em São Paulo.
Gaúcho dos pampas como um tropeiro nas vestes que o protegiam das intempéries e mudanças meteorológicas
A figura do tropeiro, à maneira do gaúcho das pampas da Argentina ou do Uruguai, identificava-se pela sua vestimenta adaptada à viagem árdua: Manta, camisa de flanela, chapéu e botas que o protegiam das vicissitudes do clima. O tropeiro foi fundamental para fomentar o desenvolvimento do interior e estimular a fixação das populações.
Quais os principais produtos transportados pelos tropeiros?
Os tropeiros transportavam uma grande variedade de mercadorias. Os principais produtos eram:
- Animais: Sobretudo mulas e cavalos, bem valorizados na época.
- Alimentos: Grãos, como, arroz, feijão, milho, produtos beneficiados, como, farinha e goma, rapadura e cachaça. Bem como, carnes, como, peixe salgado e carne de Sol, muito comuns.
- Produtos manufaturados: Inclusive os importados da Europa.
- Outros itens: Como açúcar mascavo, aguardente, vinagre, vinho, azeite, bacalhau, peixe seco, queijo, manteiga, biscoito, passas, noz, farinha, gengibre, sabão, fruta seca, chouriço, salame, tecido, alfaias, marmelada, coco, carne seca, algodão, sal e vidro para janela. Fonte: Lotes no Campo.
Mais conhecimento
No Brasil nos séculos XVII, XVIII e XIX, parte do comércio era realizado pelas tropas de mulas que atravessavam o país com mercadorias e gado ou que seriam elas mesmas comercializadas em feiras. O mais conhecido caminho de tropas era o de Viamão - Sorocaba.
As mulas vinham da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e iam para a feira de Sorocaba, onde eram comercializadas. Estas mulas tinham como destino final as Minas Gerais e o trabalho nas minas de ouro na região de Ouro Preto. Para isto atravessavam todo o interior dos atuais estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde tinham alguns pousos certos e regiões de invernada, para descanso e engorda das mulas e gado. As paragens provocaram o nascimento e crescimento de algumas vilas no Estado do Paraná, na região dos Campos Gerais, cidades como Lapa e Castro, onde hoje e dia existe o Turismo Tropeiro, com museus e restaurantes com culinária tropeira - feijão tropeiro, paçoca de carne, torresmo, farinha de mandioca.
Cada tropa tinha aproximadamente 50 animais, algumas bem maiores. Cada comitiva de muares era dividida em lotes com sete animais, com um homem cuidando de cada lote com gritos e assobios. Ao encabeçar a tropa, a madrinha - mula ou égua mais antiga, líder entre os muares. Ela ia enfeitada com fitas e guizos ou cincerros.
A cultura alimentar e as tradições de regiões brasileiras estão interligadas, pois, durante mais de três séculos, milhares de condutores de tropas se dedicaram ao trabalho nas estradas e florestas ainda pouco conhecidas. [Pesquisa de Ana Luiza J. Castelhano].
Vocação nata: 800 diárias em um ano na Fazenda do Barreiro
Nos registros de memória de Laélio, um cálculo impressionante: A receptividade de 800 diárias no período de um ano na Fazenda do Barreiro.
O que mais tem neste recanto?
Dá para se esbaldar em entretenimento para todas as faixas etárias. Do bebê ao adolescente; do jovem ao idoso. E, claro, até para quem está gerando o milagre da vida em seu ventre. Na culinária, não pode faltar o ingrediente master, o pinhão, em pratos, como, paçoca e entrevero, torta salgada, rosca de coalhada, pão de ló e bolo formigueiro. Tem apresentações de artistas do tradicionalismo e nativismo, como o compositor, gaiteiro, cantor e jornalista lageano, Paulinho Guazzelli, além de danças gaúchas e bailes temáticos, como os “badalados” de Festa de São João.
Cancha de bocha; parquinho de diversão; balanço infinito - Balanço da Felicidade; Capela Sagrada Família [com imagens de todas as crenças, tipos de fé e homenagens]; Museu Histórico de Relíquias; Museu do Paiol; Fogo de Chão; restaurante com as maravilhas da culinária de inverno; contemplação e degustação de frutas na estação, como figo, pero figo, maçã e uva; carinho nos bichinhos - os cachorros Pinhão, Bugre, Chimarrita e Tango; coelhinhos; vaquinhas; porquinhos; gatinhos; galinhas; galinhas “angolistas” [galinha d’angola]; cavalos; passeios com o TransBarreiro, um trator Massey Ferguson com carretinha de madeira; passeios com o melhor amigo do homem, o cavalo; passeio por três quilômetros até a cachoeira; contemplação do Rio Divisa, e passeio pela ponte suspensa de madeira, a popular “pinguela” sobre o Rio Divisa, entre os municípios Painel e Urupema, antigamente limitando as áreas de Lages e São Joaquim, situado dentro das terras da Fazenda, um espetáculo da natureza de vidrar os olhos. “Eu me criei tomando banho nas águas límpidas e cristalinas deste rio. Uma infância saudável. A gente se sente realizada de participar da abertura de um processo que não existia no Brasil. É um imenso orgulho. Criar algo novo que será para sempre”, confessa a empreendedora Tânia.
O plátano de 124 anos
Após o portão duplo de cor branca, nas boas-vindas da Fazenda Barreiro, o cenário se transforma em uma ilustração de um livro de fábulas. Uma árvore da espécie plátano, aquela planta cuja folha é ícone do outono. Folhas lobadas semelhantes às do bordo, que ficam avermelhadas no outono antes de caírem no inverno, com várias “pontinhas”, ideais para as composições de fotos nas redes sociais e decoração de ambientes.
Obviamente que, como tudo que existe nesta Fazenda tem história e simbologia, o plátano é de imponência, enfeita o jardim junto a conjuntos de mesa e cadeiras brancas para os chás, piqueniques e cafés da tarde, e tem sabe qual idade? 124 anos, pois em 1901 ainda era uma semente.
A simbologia das camélias - Tradição das fazendas centenárias da Serra Catarinense
Todas as fazendas centenárias da região de Lages e de outras cidades da Serra, como Painel, Capão Alto e Urupema, possuem a tradição de ter, plantada e cultivada no espaço de sua fachada, exemplar da flor camélia, o que significa ser uma “fazenda abolicionista”, portanto, o movimento libertador, contra as estruturas de escravidão. Surgido na Europa, no final do século XVIII, ganhou força durante a Revolução Francesa. A Fazenda do Barreiro, seguindo o hábito secular, mantém a sua camélia intacta. “Quando a camélia floriu, as primeiras flores foram colocadas no caixão do meu bisavô em sua despedida”, recorda Tânia Ávila.
Cápsulas do tempo congeladas para as próximas gerações
O acaso não existe. Havia duas garrafas misteriosas na casa da Fazenda. Na porta da sala da casa da Fazenda, a parede rachou, e dentro havia uma garrafa contendo um papel com a história da casa [um texto decorado por Tânia], de coronel Cezário Joaquim do Amarante, da família dos proprietários atuais. A casa começou em 31 de dezembro de 1.855. Estes documentos estão emoldurados em quadros com placas de bronze. Laélio Bianchini também redigiu uma carta contando sua versão da história da casa, um presente aos vindouros.
O que esperar do futuro, o amanhã do Turismo Rural?
“O futuro é extremamente promissor. As pessoas se sentem isoladas na cidade. Os lugares estão cheios de gente, mas será que as pessoas estão se sentindo completas, inteiras? O prazer de poder pisar descalço no chão de terra batida. Montar a cavalo e sair sem rumo, sem ser escravo do relógio. Isso não vai acabar nunca.”
Com vocês, a bravura de Tânia
“Nós nos tornamos amigos dos nossos clientes. Com a pandemia [novo coronavírus - Covid-19, em 2020 e 2021], muitos turistas deixaram de vir, e quando tudo passou, retornaram com seus filhos adultos e já com netos. É gratificante.
Aqui na Fazenda eu supervisiono a cozinha, o restaurante, o atendimento aos apartamentos. A mulher tem papel preponderante no Turismo Rural; a mulher tem uma visão ampla das coisas, dos negócios, assim como o homem também tem importância no crescimento enquanto família, empresa. A figura feminina faz com que a família fique no campo, evitando o êxodo. E é bom para a família dos funcionários também. Os jovens geralmente são urbanos, e tê-los vivendo no meio rural nos dias de hoje é incrível.”
Bodas de Diamante - 60 anos de casados - Tânia e suas confidências apaixonantes
Café na cama todos os dias
Tânia ganha café na cama todas as manhãs na Fazenda, onde mora com o seu amor Laélio, independentemente se está de aniversário ou não, comemorado em 27 de janeiro. São 60 anos juntinhos, Bodas de Diamante. Porém, a vida real prega algumas peças, mas eles vivem o final feliz dos livros e filmes de princesas.
A separação repentina e a volta mais repentina ainda
Houve uma ocasião em que o casal se separou por um tempinho. Tânia saiu de casa, mas não foi para muito longe, foi para uma pequena pousada no mesmo terreno, a poucos metros das hospedarias da Fazenda, bem pertinho da ponte do Rio da Divisa. Se Laélio se esticasse um pouquinho, praticamente dava para enxergar ela de longe. Mulher forte, destemida, decidida, dura na queda e bem resolvida, Tânia não queria dar o braço a torcer fácil, mas cedeu à sedução, à prosa e ao amor de Laélio como se fosse a primeira vez que se viram. “Ele veio me ver e me disse: ‘Eu sou homem de uma casa só, e sou homem de uma mulher só. Vamos ficar juntos.’ E eu voltei. Depois de um tempo ele falou ‘pra’ mim: ‘Mas eu sou um burro mesmo. A gente devia ter ficado lá do lado do rio, com aquela vista linda. Eu aqui, sozinho aquela vez, com essa vista para a parede lá de fora’”, relembra Tânia, aos risos.
À frente de seu tempo, Tânia aprendeu a dirigir com 12 anos de idade, e aos 15 já tinha seu primeiro carro
“Eu aprendi a dirigir com 12 anos e aos 15 ganhei um carro do meu pai. Agora estou sem dirigir. Faço fisioterapia às segundas, terças e quartas-feiras, mas daí fico na nossa casa em Lages.”
S’il vous plaît, merci: A moça que estudou em colégio tradicional, fala francês e conhece vários países
A mente de Tânia é um computador. É ela quem guarda, a sete chaves, histórias marcantes, hilárias e emocionantes da vida pessoal do casamento, da família e com turistas. Estudante do Colégio Santa Rosa de Lima na juventude, Tânia tem fresquinho na cabeça mais um dia diferente na rotina do Turismo Rural. “Uma vez, uma turista questionou se havíamos estudado, nos formado, devido ao fato de morarmos em região de interior. Aí eu disse que ‘sim’ e perguntei a ela se ela falava francês. Eu já visitei os Estados Unidos, a Inglaterra, a França. E quando estudei no Santa Rosa, tínhamos a Irmã Ivone que nos ensinou francês. Eu cantei o Hino da França inteirinho para esta turista, pois somos e vivemos no interior, e não é por isto que deixamos de ser inteligentes, cultos, sábios, com conhecimento. Não é mesmo?!”
Esta é uma das passagens com turistas, pois Laélio e Tânia são extraordinariamente comunicativos, carismáticos e hospitaleiros, e trocar informações e experiências é crucial para o sucesso nos negócios e fidelizar a clientela, já que geralmente “a primeira impressão é a que fica”, como diz o ditado.
O balanço que virou “namoradeira” até hoje
Uma das qualidades mais surpreendentes em um casal que está há mais de seis décadas em matrimônio é o companheirismo, os ciúmes, a cumplicidade, o coração acelerado de saudade, a preocupação se está bem, com saúde, alimentado e com o sono em dia. Com tanto tempo assim, é como se fossem uma única só pessoa. Não é preciso balbuciar nenhum suspiro, basta um olhar e um decifra o outro em segundos.
Tânia fala de Laélio e de sua relação com a mesma emoção de uma menina que acabou de receber uma cartinha do pretendente ou do admirador secreto, cheia de coraçõezinhos desenhados, ou, nos tempos de hoje, uma “curtida”, um comentário ou um “match” nas redes sociais ou em aplicativos de relacionamento no aparelho celular. Chegou notificação, dá até um frio na espinha. Notificação na adolescência da Tânia e do Laélio era piscadinha de um olho só, um tchauzinho inesperado ou um bilhete escrito a próprio punho, no improviso, na “cara e na coragem”.
Um balanço branco, de metal, repleto de detalhes, incrementa a ornamentação da Fazenda. Mas não é qualquer balanço, qualquer item mero decorativo. “Esse balanço ficava na sacada da casa dos meus pais, lá no Centro, atrás onde hoje é o Banco Bradesco. A gente trouxe ‘pra’ cá. Foi nesse balanço que o Laélio me roubou o primeiro beijo.” Agora serve para novos beijos e como namoradeira, né Tânia?
Passar por esta vida e não experimentar novos prazeres, novas sensações, novos sentimentos, novas percepções e motivos diferentes pelos quais o coração bate mais forte de emoção, não faz nenhum sentido. Você precisa conhecer este casal e a sua Fazenda. Tudo lá é feito com o maior carinho do mundo e encontra razão neste amor avassalador pela história, tradição, costumes, tropeirismo, folclore e pela arte serrana. O mundo é muito grande para conhecer só um pouquinho. Tem muita coisa bonita e de fazer as lágrimas rolarem pelo rosto, de alegria, nostalgia, saudade. Sejam todos bem-vindos!
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Marcos Heitor de Carvalho, Toninho Vieira, Julia Almeida e Daniele Mendes de Melo
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Agora Ficou mais fácil e Rápido Encontrar o que Você Precisa!