Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação “(...) É muito bom este reconhecimento, dá um gás a mais para continuar. Mostra que está dando certo toda a luta que enfrentei até aqui.” - Analéia Terezinha Levitte
“Sou uma mulher como tantas outras, busco o melhor para mim, para os que amo e para o mundo ao meu redor. Busco o fortalecimento todos os dias com coragem, pois tenho que vencer barreiras que são impostas em minha vida por minha condição física, mas sempre procurando evoluir como ser humano, como profissional e, sem sombra de dúvidas, como mãe.” Esta mulher de palavras fortes, decidida e tenaz, audaciosa, desembaraçada, é Analéia Terezinha Levitte. Vamos conhecê-la?
Natural de Irani, no Oeste do Estado, gerente de Acessibilidade do Município de Lages, na Secretaria do Planejamento Urbano (Seplam) e assistente social por formação e profissão, Analéia tem 53 anos e hoje em dia reside com sua família no bairro lageano, Santa Helena.
Ela é filha do operário Reinaldo e da dona de casa Filomena, os dois já no plano espiritual. Analéia tem três irmãos - Carmem, de 63 anos, é dona de casa; Dulce, 59 anos, cabeleireira aposentada, hoje dona de casa, e Jair, 57 anos, economista de formação, mas trabalha como representante comercial.
Uma família bem estruturada. Seu sonho realizado. O esposo de Analéia é Celso, que trabalha como pedreiro, seu companheiro há 23 anos. O casal tem uma filha, Michelle, acadêmica de educação física.
Aquariana, Analéia tem características de originalidade, independência e visão de futuro. Os aquarianos são frequentemente descritos como inovadores, progressistas e com um forte senso de coletividade. Valorizam a liberdade, tanto a sua própria, quanto a dos outros, e têm uma mente aberta, questionando padrões, e perseguem soluções originais.
Analéia atuou como paratleta de atletismo {arremesso de peso} e bocha rafa e participou de cinco edições dos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc), o maior evento do paradesporto de Santa Catarina, a ser realizado em Lages pela primeira vez na sua história. Esta será a 18ª edição, nos 258 anos de Lages, no período entre 16 e 21 de setembro, idealizado e desenvolvido pela Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), do Governo do Estado. “Sempre fiquei em 2º lugar no peso; na bocha tive ouro e prata”, relembra Analéia, sobre suas conquistas em Parajasc. “Já me aposentei no esporte, agora só como parte da organização dos Parajasc.”
E a sua trajetória esportiva? “Hoje não sou mais paratleta, comecei em 1999 em competições que antecederam os Parajasc, sempre com bons resultados. Não fui uma atleta de alto rendimento, comecei a competir em 99 porque achamos necessária uma atividade física. As competições eram bem amadoras, sem muito preparo, aí fomos melhorando com o tempo, tínhamos técnicos. Foi quando surgiu os Parajasc, também de forma mais simples, mas foi melhorando com o tempo e hoje é um grande evento. Parei de competir cedo, pois fui estudar, trabalhar, tive minha filha, e o tempo ficou escasso para mais atividades.”
Seu prêmio do coração?
“Reconhecimento.”
Uma mulher de fibra e visionária. Com vocês, Analéia por Analéia
“Sou uma mulher com deficiência física, adquirida por um acidente de carro em 1993, quando tinha 21 anos, e a partir daí tive que me reinventar para viver em um mundo cheio de obstáculos, em que fiz muitos tratamentos de reabilitação. Fui para Brasília no Sara Kubitschek [Hospital] fazer reabilitação. Quando voltei de lá vim morar em Lages, minha irmã e meu irmão já moravam aqui, e como era só eu e minha mãe acharam melhor vir morar aqui, onde ficaríamos juntos, e assim eu teria melhores cuidados. Nesta época meu pai já tinha falecido. Minha vida é marcada por muitas conquistas, e cada uma delas carrega um significado importante. A primeira grande vitória foi a oportunidade de estudar e me formar, enfrentando as barreiras impostas pela sociedade, como é até hoje por ser uma pessoa com deficiência. Foi um caminho cheio de desafios, em que precisei provar muitas vezes que era tão capaz quanto qualquer outra pessoa, isto no trabalho, quanto na vida. Mas, entre todas as conquistas, a maior delas foi, sem dúvida, o nascimento da minha filha Michelle. Ela chegou em um momento crucial da minha vida, junto à notícia de que eu havia passado no vestibular. A alegria da aprovação foi imediatamente acompanhada pela descoberta da gravidez. E, assim, vivi duas experiências transformadoras ao mesmo tempo, ser mãe e ser universitária. Fiz a faculdade grávida, enfrentando cansaço, dúvidas, mas também cheia de esperança e motivação. Cada aula, cada prova, cada passo na universidade era também um passo pensando no futuro da minha filha, sempre com o apoio de meu marido e de minha mãe, que foi o meu maior alicerce na vida. Hoje ela não está mais aqui, mas tenho certeza que ela deve ter muito orgulho do que vivo hoje. Perdi ela faz dois anos e ainda sinto ela muito presente na minha vida. Meu pai faleceu fazem 35 anos e também sinto muita falta dele, era um pai maravilhoso. E tudo isto me fez ainda mais forte. Hoje enfrento mais um grande desafio, estar à frente de uma gerência. Ocupo um cargo de gestão que exige muito de mim, não apenas decisões técnicas, mas também postura, equilíbrio e, muitas vezes, respostas imediatas. Muitas pessoas me veem como aquela que precisa saber tudo, resolver tudo, como se eu tivesse todas as respostas sempre à mão. E mesmo com toda minha trajetória profissional, ainda me pego tendo que reafirmar minha competência, provar que estou ali por mérito e não por acaso. E com isto mostrar principalmente para aquelas que, como eu, já ouviram que não seriam capazes. Vocês são capazes!!!! E foi neste caminho intenso que o esporte entrou na minha vida. ‘Ele’ veio como um reforço emocional e físico, uma ferramenta de fortalecimento. No esporte, encontrei mais do que condicionamento, encontrei foco, disciplina e, acima de tudo, uma forma de cuidar de mim. Ele veio para romper barreiras.”
Se não bastasse o amor que transborda pela filha e tantos orgulhos que Michelle dá à mãe, a moça ainda é maratonista, seguindo exemplos de dentro de casa
“Minha filha é maratonista, corre, sempre traz medalhas e troféus. Minha sobrinha e o marido dela também são maratonistas, sempre com medalhas e troféus também. Meu sobrinho também corre, mas não tanto como os outros.”
O dia a dia de uma poderosa profissional
“Minha rotina é bem puxada. Levanto cedo, me arrumo para trabalhar, vou trabalhar. Chego ao meio-dia, almoço, lavo a louça e volto para o trabalho. Chego em casa no final da tarde e vou ‘fazer’ os afazeres da casa. Lavo roupa à noite para estender no outro dia pela manhã; faço ‘janta’ para o almoço do outro dia. No trabalho tenho milhões de coisas para resolver. Hoje, além de estar trabalhando com as equipes dos Parajasc, também estou à frente do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência [CMDPD], e temos outros eventos no ano, inclusive, em setembro, antes dos Parajasc, temos a Semana Inclusiva de Santa Catarina, parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT) e outros parceiros. Então, não fico só em minha sala, saio bastante em eventos para os quais me chamam, nas Instituições de Pessoas com deficiência. É muita correria. Estou até o final dos Parajasc na Fundação Municipal de Esportes [FME] a pedido do superintendente Tyrone, para melhor realizarmos os trabalhos. Em 2025, respiramos Parajasc; em 2026, descanso, vida normal kkkk.”
Os gostos de Analéia
Católica, respeita todas as outras religiões desde que respeitem a sua. Em relação às horas de lazer: “Sou bem caseira, gosto da família reunida, de viajar, ler, assistir filmes e novelas.”
Sua mãe é sua inspiração; sua filha, sua fã. Ela tem como ídolo Ayrton Senna do Brasil, maior piloto de Fórmula 1 que o Brasil já teve. Colorada, faz questão de dizer “Internacional de Porto Alegre”.
Analéia tem como livro predileto “A Coragem de ser Imperfeito”, uma reflexão sobre as vulnerabilidades dos seres humanos, de Brené Brown, e o filme “Como Eu era Antes de Você” como favorito. “Choro todas as vezes que assisto, já assisti milhões de vezes kkkk.” A respeito de música: “Gosto de todos os tipos de música. Vou do rock ao sertanejo, e também gospel.” Ela “curte” “É Preciso Saber Viver”, de Titãs, banda que Analéia aprecia, entre outras várias. Preto e rosa são suas cores preferidas, assim como uma lasanha bem recheada, comida japonesa e vinho.
Quem é você? Quem é a Analéia?
“Difícil falar assim ‘quem sou eu’. Sou um pouco de tudo... Alegre, chorona... que acredita nas pessoas e tem esperança que um dia será muito melhor. Que fica muito brava com as injustiças, brigona, general, como falam na minha família, mas acredito que também sou gente boa kkkk.”
O que espera dos Parajasc? Quais suas expectativas?
“Que tenhamos um Parajasc maravilhoso, acolhedor, o melhor da história. Que Lages seja 1º lugar nos Parajasc.”
Sua meta?
“Crescimento profissional e pessoal.”
Um desejo?
“Estar sempre perto de quem eu amo.”
Sonho?
“É conquistar cada vez mais vitórias com minha família.”
Projeto de vida?
“Sempre ser feliz.”
Um desejo para Lages?
“Só coisas boas e vitórias.”
Por que é legal ser um Orgulho Lageano?
“Não sei como apareci aí, mas é muito bom este reconhecimento, dá um gás a mais para continuar. Mostra que está dando certo toda a luta que enfrentei até aqui.”
Vem para os Parajasc em Lages
Os Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina são destinados a atletas com idade a partir dos 15 anos com deficiências física, auditiva, intelectual ou visual. Tem como propósito promover o paradesporto nas instituições e clubes, bem como fortalecer a inclusão social e resplandecer talentos para o esporte adaptado.
Em circunstância dos Parajasc que Santa Catarina se tornou potência no paradesporto, revelando representantes que foram às paralimpíadas e conquistaram vários resultados nos anos mais recentes. Possuem um contexto histórico no Estado e desde 2005 têm o poder de ser um evento referência no Brasil.
Na edição 2025 serão aproximadamente 60 municípios catarinenses participantes. Em torno de 2.200 paratletas estarão reunidos em Lages, junto com técnicos, árbitros e dirigentes esportivos.
Reunirá milhares de atletas do paradesporto catarinense em 14 modalidades: Atletismo, basquetebol com cadeira de rodas, basquetebol di, bocha paralímpica, bocha raffa, ciclismo, futsal da-di, goalball, handebol com cadeira de rodas, natação, tênis de mesa, xadrez, judô e parataekwondo.
Dois meses depois, entre 18 e 29 de novembro de 2025, será realizada, em Chapecó, região Oeste, a 63ª edição dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). Parajasc e Jasc são desenvolvidos pela Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), com apoio das prefeituras das cidades-sede.
A Prefeitura de Lages está empenhada na execução de adequações necessárias para receber as delegações nos ambientes das competições dos Parajasc. Os pontos principais serão o Estádio Vidal Ramos Júnior, Ginásios Municipais de Esporte Ivo Silveira e Jones Minosso e escolas de apoio, alojamento ou sedes de disputa. O Governo do Estado de Santa Catarina repassou R$ 1 milhão para a etapa estadual dos Jogos.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação
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