Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação e Nilton Wolff Tá pintando o campeão! “(...) Depois, aprendi a correr, andar de bicicleta (...) como o mundo paralímpico era incrível e as oportunidades que ele tinha a me oferecer. Depois de cicatrizado (...) decidi me juntar à Asespp para começar o caminho (...) Venho conquistando coisas que nunca imaginei que conseguiria, sendo atleta paralímpico."
Lages viverá dias inesquecíveis dentro de poucos dias. Um verdadeiro show de força, resistência, técnica, habilidade, disciplina, constância, foco e superação, com os maiores nomes do paradesporto. Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc), maior evento paradesportivo do Estado, a ser promovido no período de 16 a 21 de setembro deste ano, a 18ª edição em 2025, e em Lages, estreante como cidade sede deste evento imponente em toda a sua história dos seus 258 anos de fundação, deverá reunir milhares de atletas em múltiplas disputas em diversificadas modalidades.
E falando em força, literalmente força física, o jovem Andrei Ventura Ferreira, de 19 anos, será um dos exponenciais talentos desta edição e, assim como para o município de Lages sede, será sua participação inédita no Parajasc. Natural de Bom Retiro, cidade próxima a Lages, o atleta Andrei é praticante de atletismo [corrida] e mora no bairro Universitário, na Princesa da Serra.
Filho da diarista Silvana, e irmão de Sofia, de nove anos, estudante, é beneficiário do Benefício de Prestação Continuada (BPC), previsto na Lei Orgânica da Assistência Social (Loas). Andrei é atleta desde 2021, época da pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19).
Esta será a primeira vez em que participará do Parajasc. O coração está apertado de ansiedade por todas as experiências a serem aproveitadas: Chance de conhecer gente nova, fazer amizades, interagir com atletas de outros cantos de Santa Catarina, transpor obstáculos pessoais, alcançar bons resultados, ganhar medalhas, subir ao pódio uma, duas ou mais vezes.
Fingir costume? Que nada! Andrei já é famoso no lugar mais alto do pódio. É ouro pra todo lado
“Em toda a minha carreira tenho as seguintes vitórias: Recorde brasileiro nos 800 metros na minha categoria; 16º lugar no ranking mundial da minha categoria neste ano; 1º lugar nos 400 metros etapa Campeonato Brasileiro 2024 na minha categoria; 1º Lugar Brasileiro Sub-20 em 2024 na minha categoria, e 1º lugar nas provas 100 metros, 200 metros e 400 metros nas Paraolimpíadas Escolares das quais participei.”
Como é a sua preparação para competições? E quanto ao Parajasc, o que muda?
“Eu me preparo através de treinos específicos para a minha prova, trabalho de resistência, força e técnica. Também faço alongamentos e aquecimentos adequados para evitar lesões e melhorar meu desempenho.”
Os Jogos Abertos Paradesportivos já apontam ali no horizonte. O que passa pela sua cabeça?
“Fazer o meu melhor e entregar aquilo que pratiquei e suei nos treinos.”
As particularidades do atleta
Pisciano
O jovem é pisciano - o signo de Peixes abrange os nascidos entre 19 de fevereiro e 20 de março, o último do Zodíaco e regido pelo elemento água e pelo planeta Netuno. Caracteriza-se pela sensibilidade, intuição, empatia, generosidade e uma forte conexão com o mundo dos sonhos e da imaginação. Altamente altruísta e acolhedor, seus principais traços de personalidade são sensibilidade e empatia, criatividade e sonho, generosidade e altruísmo, adaptabilidade e resiliência.
E aí, Andrei, o que você “curte”?
Andrei acredita em Deus, tem a si mesmo como fonte de inspiração, e a Bíblia como livro predileto. O filme “Como Treinar seu Dragão” como favorito, assim como o gosto por energético.
Ritual de competição?
“Músicas e conversas mentais comigo mesmo.”
Uma meta?
“Chegar aos 10 segundos. 10 segundos é um tempo nos 100 metros rasos, objetivo no qual todo atleta com deficiência espera chegar e alcançar através do treinamento.”
Andrei, fique à vontade para falar sobre a sua vida
“Renascido das cinzas - Minha jornada de superação e transformação -
Aos 11 anos de idade, em 17 de janeiro de 2018, um mês antes do meu aniversário, aconteceu a tragédia que mudaria minha vida por completo: Um acidente de choque elétrico enquanto brincava, levantando uma barra de ferro sob fios de alta tensão desencapados. Pois é, criança faz arte, mas se era obra do destino, quem sou eu, um mero mortal, para contrariar? Não desejo a ninguém o que passei naquele momento. Quando encontrei minha sorte foi graças à chave do poste. No momento do choque senti um clarão e escuridão ao mesmo tempo e, em fração de segundos, tentando respirar, abrir os olhos, escutar e até mesmo sentir, perdi todos os sentidos. Pensei: ‘Vou morrer’, mas consegui respirar, sentir e abrir os olhos. O sentimento era como se estivesse sendo esmagado com força. Naquela hora meu corpo estava todo atrofiado. Meu padrasto, rápido como nunca, sem se importar com ele mesmo, chegou e me deixou esticado, na melhor posição para repouso. Depois dali, só restava a famosa frase: ‘Deixa a vida me levar’.
Fui levado ao hospital de Bom Retiro e transferido para Lages para melhor recuperação. Na mesma noite, internado na UTI [Unidade de Terapia Intensiva], a solução seria, em uma semana, ter que amputar metade dos dois braços e pés. Mas, então, não sei se foi obra do destino, pois houve troca de plantão e fiquei com a equipe da doutora Fernanda e seu estagiário Bruno. Olhando bem para minha situação, ele falou para minha mãe (segundo ela): ‘Vamos tentar deixar o máximo dele possível, tentar uma solução melhor do que amputar’. Naquele momento, mesmo apostando seu cargo como futuro doutor, Bruno acreditou que era possível e pediu para minha mãe me deixar nas mãos dele. O tratado seria que, quando fosse para cuidar de mim, não perguntasse quando eu iria sair. Depois daquilo, ela rasgou a autorização de amputação e me deixou com a equipe da doutora Fernanda.
Um mês se passou, com limpezas sendo feitas dentro dos meus braços devido ao choque, e nos pés devido à saída da descarga elétrica, que foi nas pontas dos pés. Foi sofrido, pois estavam removendo as partes dos dedos mortas pelo choque e, no fim do primeiro mês, fiquei sem dedos nos pés. A partir dali a recuperação envolveu bastante soro, processos dolorosos e até transfusão de sangue, sem saber o meu tipo sanguíneo, que é O negativo.
No final do segundo mês recebi a notícia de que poderia voltar para casa, com a condição de passar uma semana em casa e outra no hospital. Depois, as visitas diminuíram para uma vez por mês.
Após dois meses, fui autorizado a tentar caminhar de novo. Eles não garantiam que eu conseguiria caminhar normalmente, pois não tinha mais as pontas dos pés, essenciais para o equilíbrio. Mas, com força, fé, determinação e a ajuda de pessoas importantes, consegui. Vale destacar o apoio que tive de minha Segunda Professora, Caroline Lehmkuhl Pereira. E a importância do fisioterapeuta Eduardo Neckl, dono da Academia FisioCenter, de Bom Retiro, na minha reabilitação para caminhar. Sempre serei grato.
Depois disto, aprendi a correr, andar de bicicleta e voltei ao hospital em uma das minhas últimas visitas. Fui recebido na sala de atendimento com emoção, com a sensação de missão cumprida, algo que na época eu, como criança, não entendi, mas agora entendo.
Desde então, entrei no mundo paralímpico, apresentado pela minha prima Rafaela Farias, que também sofreu um acidente e perdeu uma das pernas. Ela, como paratleta e prima, me visitava e mostrava como o mundo paralímpico era incrível e as oportunidades que ele tinha a me oferecer. Depois de cicatrizado do acidente, decidi me juntar à Asespp (Associação Esportiva e Paradesportiva de Lages) para começar o caminho que ela me mostrou. Desde então, venho conquistando coisas que nunca imaginei que conseguiria, sendo um atleta paralímpico.”
Um tanque de energia chamado família e amigos
“É interessante como momentos que podem parecer difíceis a primeira vista podem se tornar especiais por causa das pessoas ao nosso redor. Passei meu aniversário de 12 anos no hospital e foi uma experiência única, mas a presença e a preocupação das pessoas que se importam com você podem realmente transformar estas situações. A importância de sentir-se amado e apoiado, especialmente em momentos vulneráveis, pode fazer toda a diferença. É incrível como estas experiências podem nos mostrar o quanto somos queridos e lembrados.”
É campeãão! Prefeitura homenageia Andrei e mais amigos atletas
Na totalidade, 39 atletas de Lages foram homenageados pela Prefeitura do Município e pela Fundação Municipal de Esportes (FME) em solenidade neste dia 28 de agosto. O encontro foi marcado por homenagens, reconhecimento e valorização ao talento esportivo local. E, é claro, Andrei Ventura não faltou neste hall, desta vez pela 2ª fase nacional do Circuito Loterias Caixa de Atletismo, com direito a Certificado de Orgulho para guardar como recordação em sua coleção de emoções. A prefeita Carmen Zanotto e o superintendente da FME, Tyrone Machado, foram os anfitriões da cerimônia.
Trata-se de atletas em evidência nos Joguinhos Abertos de Santa Catarina e em outras salutares competições nacionais e internacionais disputadas ao longo do mês de agosto. Nos Joguinhos Abertos, subiram ao pódio, em ouro, prata e bronze, atletas de jiu-jitsu, natação, taekwondo. Bem como receberam a sua homenagem atletas que conquistaram resultados expressivos em outras competições nas últimas semanas, como o Troféu Fernando Scherer, Copa Amazônia Internacional de Natação, Copa Santa Catarina de Taekwondo, Copa Brasil e Campeonato Brasileiro de Tênis de Mesa, além da 2ª fase nacional do Circuito Loterias Caixa de Atletismo, Meeting Paralímpico, Campeoanto Catarinense de Xadrez e Circuito Angeloni.
Vem para o Parajasc em Lages
Os Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc) são destinados a atletas com idade a partir dos 15 anos com deficiências física, auditiva, intelectual ou visual. Tem como propósito promover o paradesporto nas instituições e clubes, bem como fortalecer a inclusão social e resplandecer talentos para o esporte adaptado.
Em circunstância do Parajasc que Santa Catarina se tornou potência no paradesporto, revelando representantes que foram às paralimpíadas e conquistaram vários resultados nos anos mais recentes. Possuem um contexto histórico no Estado e desde 2005 têm o poder de ser um evento referência no Brasil.
Na edição 2025 serão aproximadamente 60 municípios catarinenses participantes. Em torno de 2.200 paratletas estarão reunidos em Lages, junto com técnicos, árbitros e dirigentes esportivos.
Reunirá milhares de atletas do paradesporto catarinense em 14 modalidades: Atletismo, basquetebol com cadeira de rodas, basquetebol di, bocha paralímpica, bocha raffa, ciclismo, futsal da-di, goalball, handebol com cadeira de rodas, natação, tênis de mesa, xadrez, judô e parataekwondo.
Dois meses depois, entre 18 e 29 de novembro de 2025, será realizada, em Chapecó, região Oeste, a 63ª edição dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). Parajasc e Jasc são desenvolvidos pela Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), com apoio das prefeituras das cidades-sede.
A Prefeitura de Lages está empenhada na execução de adequações necessárias para receber as delegações nos ambientes das competições do Parajasc. Os pontos principais serão o Estádio Vidal Ramos Júnior, Ginásios Municipais de Esporte Ivo Silveira e Jones Minosso e escolas de apoio, alojamento ou sedes de disputa. O Município trabalha intensamente, em paralelo, na infraestrutura da cidade, com recuperação de pavimentações, asfaltamentos e manutenções de condições de mobilidade urbana, organização e embelezamento. Inaugurações e reestruturações de espaços esportivos e em complexos na lista de feitos do Parajasc 2025. O Governo do Estado de Santa Catarina repassou R$ 1 milhão para a etapa estadual dos Jogos.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Arquivo pessoal/Divulgação e Nilton Wolff
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