Fotos: Arquivo pessoal e Studio Giovane Granzotto Fotografias/Divulgação Parajasc em Lages pela primeira vez na história - Recordista nacional por oito anos em três tipos de prova, Prata na Alemanha e Melhor Atleta do Sul do Brasil: Vem fazer mais sucesso, Emanuelly! Lages está a sua espera na sua quarta participação nos Jogos
A fé, amiga da persistência, constância e disciplina, remove montanhas. Você vai conhecer Emanuelly, a jovem que, ainda criança, com apenas três aninhos de idade, mesmo tão pequenininha, teve de ouvir da medicina, junto a sua mãe, a constatação de um diagnóstico extremamente forte e que seria determinante para sua vida, embora tivesse acabado de começar, pois a infância estava prestes a iniciar suas descobertas, magias e felicidades. Todavia, o Médico dos Médicos reservava agradáveis surpresas para aquela delicada boneca. Veterana, pela quarta vez a atleta de corrida será uma das estrelas a brilharem intensamente nos Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc), maior evento paradesportivo do Estado e um dos maiores eventos esportivos de inclusão da região Sul do Brasil, a ser promovido no período de 16 a 21 de setembro, a 18ª edição em 2025, e em Lages, estreante como cidade sede deste evento imponente em toda a sua história dos seus 258 anos de fundação, e deverá reunir milhares de atletas em múltiplas disputas em diversificadas modalidades.
Serão 2.479 atletas de 74 municípios, competindo em 14 modalidades em uma celebração de inclusão, acessibilidade e superação. Serão 11 locais de disputas, e 17 escolas selecionadas como alojamentos e atletas e comissões técnicas.
Faltam só 13 dias
A solenidade de abertura oficial do 18º Parajasc está programada para 17 de setembro, às 19h, no CentroSerra Convention Center. Serão anfitriões a prefeita de Lages, Carmen Zanotto; o presidente da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), Jeferson Ramos Batista, e o superintendente da Fundação Municipal de Esportes (FME) e presidente da Comissão Central Organizadora (CCO), Tyrone Machado.
Vamos lá, Manu!
Emanuelly Keilla Remoaldo de Oliveira cresceu e hoje já tem 24 anos, está casada e é mamãe da Maria Alice, de dois anos. Natural de Água Doce, na região Meio-Oeste de Santa Catarina. É filha de professores e irmã de duas professoras. “O Parajasc será meu retorno à pista após as cirurgias e a maternidade”, comemora a atleta, extasiada de expectativas.
Criança veloz - Com 11 anos de idade quebrou o recorde brasileiro nas provas de 100, 200 e 400 metros - Seguiu com recordes ao longo de oito anos seguidos
Vamos deixar que a própria Emanuelly conte passagens de sua linda história de vida
Emanuelly, é com você:
“Tenho paralisia cerebral congênita, que foi descoberta somente com três anos de idade. Pelos médicos, eu não andaria, mas graças a Deus estou aqui correndo. Conheci o esporte paralímpico através da secretária da escola onde eu estudava, Alessandra Subtil Andrade. Inicialmente, iria para a natação, mas, meu técnico viu o potencial no atletismo nas provas de velocidade, e com 11 anos de idade eu quebrei o recorde brasileiro nas provas de 100, 200 e 400 metros; foram oito anos consecutivos com recordes. Porém, em 2020 tive de dar uma pausa na minha carreira e em tudo na vida ‘pra’ passar por uma grande cirurgia ‘pra’ correção da paralisia cerebral. A cirurgia foi um sucesso, contudo, foi um longo processo de recuperação. Tive de reaprender a andar e tudo começou do zero novamente. Apesar de tudo, sou muito grata a Deus. Falo que esta cirurgia é um presente do céu, pois ela foi liberada justamente no dia do meu aniversário [11 de dezembro]. Uma série de vitórias. Uma atrás da outra. E em 2023 me tornei mãe de uma princesinha. Eu sou um milagre e estou aqui. A deficiência é apenas um detalhe.”
As conquistas da corredora Emanuelly
“Minhas conquistas no atletismo são: Recordista brasileira por oito anos consecutivos nas provas de 100, 200 e 400 metros; Medalha de prata no Open Internacional de Berlim, na Alemanha, em 2016; Troféu de Melhor Atleta do Sul do Brasil, em 2016, e Troféu Guga Kuerten/Atleta Revelação Paradesportivo, em 2017.”
Deus acima de tudo na vida dela
“Antes de cada competição gosto de fazer uma oração pedindo proteção a Deus e ouvir música, pois ajuda a relaxar e não me deixa ansiosa ‘pra’ prova. Gosto de passar o tempo livre com minha filha, sair com ela, ver séries e filmes.”
Um aniversário especial e um 2020 extraordinário
“Bom, eu faço aniversário no dia 11 de dezembro, e 2020 foi o ano em que eu ‘fiz’ minha cirurgia. No final de 2019 eu já ‘tava’ procurando um médico ‘pra’ fazer minha cirurgia, ‘pra’ correção da paralisia, porque eu ‘tava’ sentindo muita dor, remédio já não ‘tava’ mais fazendo efeito, e os médicos que eu procurei aqui em Lages não quiseram fazer a cirurgia, pois era arriscado, tinha risco de romper tendão. Eu era atleta, qualquer erro acabaria com a minha carreira, e eu coloquei na minha cabeça, ali no final do ano, começo do ano de 2020, que ou eu fazia em 2020 a cirurgia ou não era ‘pra’ eu fazer, porque eu já tinha ido ‘pra’ mesa de cirurgia outra vez, quando eu era mais nova, lá em 2014, e chegou na hora o médico esqueceu o equipamento, falou que não ia fazer a cirurgia. E aí aquele dia acabou comigo.
Eu tinha uma competição na Argentina e eu acabei deixando de ir para lá para poder fazer a cirurgia. Chegou o dia da cirurgia (a cirurgia foi marcada para às 6 da manhã), e o médico apareceu às 10 da manhã falando que não ia fazer. Para mim, acabou comigo. E aí eu fui levando. Às vezes, quem sabe não é para fazer né?! E eu ficava muito frustrada, porque eu via outras pessoas fazendo a cirurgia ou não fazendo por medo e eu querendo fazer a todo custo e não podendo fazer porque o médico tinha medo de fazer; os médicos não queriam fazer, mesmo no particular não deu certo. Aí falei assim ‘pra’ minha mãe e ‘pra’ todo mundo que me perguntava: ‘Ou eu faço em 2020 ou eu não faço mais, porque às vezes eu ‘tô’ teimando com uma coisa... Eu acredito muito em Deus. Às vezes Deus tem o melhor ‘pra’ mim ou não é ‘pra’ eu fazer, é ‘pra’ eu continuar assim pelo resto da vida, não sei.’ E eu falava assim: ‘Acho que se não, né?! Acho que não, e se não acontecer este ano, eu não vou tentar mais, eu não vou atrás de médico, não vou fazer exame, não vou fazer mais nada. Eu vou deixar, porque daí não é ‘pra’ eu fazer, é uma coisa que Deus não quer que aconteça na minha vida, então vamos deixar quieto.’
E naquela vez que eu tinha ido ‘pra’ mesa de cirurgia, eu fui, e antes de fazer a cirurgia eu tinha começado com uns problemas nos exames de sangue. Dava alguns problemas no laboratório, depois eu fui descobrir que era um problema no laboratório e não no meu sangue, mas eu tive de passar por todo o processo de novo para chegar na hora e não dar certo. Daí quando eu decidi que era aquele ano, ou não ia fazer mais, eu falei assim para a minha mãe: ‘Dessa vez, se for da vontade de Deus, vai acontecer a cirurgia e não vai dar nada errado, porque se der uma coisinha errada, eu desisto de fazer a cirurgia.’ E para todo mundo que me perguntava, eu falava da cirurgia, que ia ser naquele ano ou não faria mais.
E aí em 2020 eu botei na cabeça que ia acontecer essa cirurgia ou não, mas que seria o último ano que eu ia tentar. E aí, no começo do ano ali, eu viajei para Vitória, no Espírito Santo, e todo mundo me perguntava: ‘E aí, a cirurgia sai ou não sai?’ Eu falei: ‘Se não sair esse ano, não sai mais, porque daí eu desisto.’ Eu falava para todo mundo, ‘pra’ todo mundo que me perguntava eu dizia isso. Porque às vezes eu estou teimando com uma coisa que não é para acontecer e eu estou querendo me forçar. Passaram tantos anos, né?!
Então, voltando da competição, passaram algumas semanas, foi decretada a pandemia [novo coronavírus, gerador da Covid-19]. Aí eu disse ‘pra’ minha mãe: ‘Pronto, não vai dar certo de novo.’ Foi fechando tudo, foi parando tudo. Falei: ‘Não vai dar certo de novo essa cirurgia, meu Deus do céu, e eu ali, né?’ E eu ia num médico, ia no outro médico. E eles falavam ‘não’, e faz exame, faz exame. Eu tinha de fazer tudo, radiografia, tudo ‘pra’ eles verem a situação. Cada vez que eu ia num médico, eles me diziam que não podia, que não era muito arriscado, que era muito grande, que o tempo de recuperação era muito grande, que não tinha como, porque essa cirurgia é feita quando você é criança. Eu nasci com o pé torto congênito. Portanto, era ‘pra’ ter feito na infância, só que o médico que atendeu minha mãe na minha infância não falou nada ‘pra’ ela. Ela foi descobrir muito tempo depois, porque eu entrei no esporte e daí eu fui atrás de saber, conhecendo pessoas que tinham deficiência, fui atrás de saber dessa cirurgia.
Um dia eu entrei na Internet, fui procurar um ortopedista e apareceu o médico que me operou, lá de Florianópolis, e eu mandei mensagem ‘pro’ consultório dele. Ele não ‘tava’ atendendo por conta da pandemia, aí ali eu já desanimei, mas eles pediram para fazer uma consulta online. Marquei a consulta e contei a minha história. Aí o médico disse que precisava me ver pessoalmente por se tratar de deficiência e necessidade de cirurgia. Não havia atendimento presencial por causa da pandemia. Lá por agosto... setembro de 2020 eu mandei mensagem de volta. Já tinham voltado a atender presencialmente. Agendei e lá mesmo já foram feitos todos os exames, avaliação. Eu procurei ele para fazer uma cirurgia para alongar o tendão de Aquiles. O médico informou a mim que uma só não iria resolver, teria de ser mais cirurgias. Fiz a cirurgia nas duas pernas. ‘Se for para sofrer, vou sofrer uma vez só.’ Fiz do quadril para baixo; eu tenho cirurgia até na ponta do pé (embaixo). E agora eu tenho que fazer mais uma cirurgia ainda; essa deixamos para fazer depois que eu já tivesse me recuperado, porque haviam muitos riscos e tal, mas ainda não fiz.
Eu não estava com medo: ‘Eu confio no senhor e em Deus’, eu disse para o médico. ‘Então, se o senhor cruzou o meu caminho e se é ‘pra’ ser, vai ser.’
Fiz todos os exames pré-operatórios lá e só faltava liberar. Era um ano de pandemia, e uma cirurgia que não era por estética, mas não urgente. Deste modo, poderiam negar. Era só aguardar e fiquei aguardando.
Sempre olhando e estava sempre em análise. E no dia do meu aniversário, na madrugada do meu aniversário, era umas 2, 3 horas da manhã, eu abri o aplicativo... ‘tava’ sem sono... abri o aplicativo da Unimed e deu aprovado, e aí eu tive de conter a alegria de madrugada para não sair gritando, porque minha vontade era sair gritando, pulando, chorando, contar para todo mundo. Eu tive que esperar todo mundo acordar para depois eu contar.
Minha cirurgia foi liberada bem no dia do meu aniversário, dia 11 de dezembro, e foi marcada para o dia 18. Eu fiz uns exames pré-operatórios, e daí já ‘operou’ na última semana, foi a última cirurgia que o médico fez naquele ano. Ele já tinha fechado a agenda, ele abriu só ‘pra’ eu ‘fazer’ essa cirurgia.
Eu considero como se fosse um presente de Deus, assim, porque eu falei, né?!, ‘ou era aquele ano ou nunca mais.’ E aí aconteceu naquele ano, no final do ano, bem no finalzinho, assim, eu já tinha perdido as esperanças. E bem no fim, deu certo. Deu tudo certo, foram aprovadas todas as cirurgias, e eram bastante. E ele até achou que não ia liberar tudo, foi liberado tudo. Muito obrigado.”
Depois do milagre, recuperação criteriosa, sensível e frágil
“A recuperação foi bem dolorosa, porque o doutor teve que quebrar o meu fêmur para realinhar. Eu tenho placa de titânio, tenho os parafusos no pé, tudo. Eu não consegui competir depois, pois até eu recuperar...”
A maternidade... A volta por cima e às pistas do Parajasc. E em Lages
“Quando eu voltei, eu queria correr, aí eu ‘tava’ grávida da minha menininha. Descansei mais um pouco, me dediquei à maternidade e aí surgiu a oportunidade agora do Parajasc em Lages. Meu técnico ligou e falou: ‘Vamos’, e eu disse: ‘Bora.’”
Vem para o Parajasc em Lages
Os Jogos Abertos Paradesportivos de Santa Catarina (Parajasc) são destinados a atletas com idade a partir dos 15 anos com deficiências física, auditiva, intelectual ou visual. Tem como propósito promover o paradesporto nas instituições e clubes, bem como fortalecer a inclusão social e resplandecer talentos para o esporte adaptado.
Em circunstância do Parajasc que Santa Catarina se tornou potência no paradesporto, revelando representantes que foram às paralimpíadas e conquistaram vários resultados nos anos mais recentes. Possuem um contexto histórico no Estado e desde 2005 têm o poder de ser um evento referência no Brasil.
Na edição 2025 serão aproximadamente 60 municípios catarinenses participantes. Em torno de 2.200 paratletas estarão reunidos em Lages, junto com técnicos, árbitros e dirigentes esportivos.
Reunirá milhares de atletas do paradesporto catarinense em 14 modalidades: Atletismo, basquetebol com cadeira de rodas, basquetebol di, bocha paralímpica, bocha raffa, ciclismo, futsal da-di, goalball, handebol com cadeira de rodas, natação, tênis de mesa, xadrez, judô e parataekwondo.
Dois meses depois, entre 18 e 29 de novembro de 2025, será realizada, em Chapecó, região Oeste, a 63ª edição dos Jogos Abertos de Santa Catarina (Jasc). Parajasc e Jasc são desenvolvidos pela Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte), com apoio das prefeituras das cidades-sede.
A Prefeitura de Lages está empenhada na execução de adequações necessárias para receber as delegações nos ambientes das competições do Parajasc. Os pontos principais serão o Estádio Vidal Ramos Júnior, Ginásios Municipais de Esporte Ivo Silveira e Jones Minosso e escolas de apoio, alojamento ou sedes de disputa. O Município trabalha intensamente, em paralelo, na infraestrutura da cidade, com recuperação de pavimentações, asfaltamentos e manutenções de condições de mobilidade urbana, organização e embelezamento. Inaugurações e reestruturações de espaços esportivos e em complexos na lista de feitos do Parajasc 2025. O Governo do Estado de Santa Catarina repassou R$ 1 milhão para a etapa estadual dos Jogos.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Arquivo pessoal e Studio Giovane Granzotto Fotografias/Divulgação
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